Há alguns dias uma notícia me chamou demais a atenção: “Casal de idosos que se conheceu no Tinder oficializa união”. Em um texto curto, a matéria relata o encontro de Vitório e Neusa por meio do aplicativo de encontros Tinder e a construção do relacionamento dos dois.
Por um lado, simplesmente adorável!
Mas, por outro lado, fiquei me perguntando... por que o amor e a sexualidade após os 60 anos são vistos como algo tão inusitado? Por que o corpo que envelhece é visto como indesejável ou assexuado?
Na minha opinião, a resposta para perguntas tão profundas é curta: puro e simples tabu.
Nos últimos três anos, tenho notado um aumento de aplicativos que promovem o encontro entre pessoas com mais de 60 anos. Também tenho notado que as questões ligadas à afetividade e à sexualidade têm sido alvo de discussões e até de representações na mídia. Um exemplo delicioso é o filme “Do jeito que elas querem” (2018), com Jane Fonda, Candice Bergen, Diane Keaton e Mary Steenburgen nos papéis principais.
Contudo, apesar disso, o senso comum ainda considera a impossibilidade das relações afetivas na fase madura da vida. Temas como sexo casual ou homoafetividade são completamente descartados das discussões e relegados ao plano da invisibilidade pela sociedade.
Esquecemo-nos que a sexualidade pode tomar contornos diferentes com o envelhecimento.
Talvez, já não se procure mais realizar as fantasias sugeridas em livros como Cinquenta Tons de Cinza. Talvez, a necessidade fisiológica seja ultrapassada para que o sexo adquira um aspecto muito mais terno e prazeroso, no qual o conforto e cumplicidade são os fatores principais.
Porém, talvez não seja nada disso e a pessoa que amadurece ainda busque tudo que o sexo lhe proporcionou de bom quando jovem. Ou, em um momento em que se encontra liberto de algumas amarras morais e físicas da juventude, tudo o que mais se quer é experimentar novas sensações.
Tudo é possível para a turma que chega hoje aos 60, 70 anos. Eles são de uma geração que transformou os padrões de comportamento e buscou novos e diferentes arranjos conjugais e familiares.
Neste sentido, vejo a sexualidade na maturidade exercida de forma muito individual e ligada à história de cada um. Para mim, neste tema, só não cabem preconceito e estereótipos que tentem amarrar o envelhecimento à ideia de perdas, impossibilidades ou tabus.